Uma das mantenedoras deste belo exemplar de arquitetura rural é Dona Célia A. Azevedo, herdeira do barão de vila franca. Como descendente autêntica da nobreza aristocrática, teria direitos legais de perpetuar em Quissamã o velho paradigma de Gilberto Freyre " Casa-grande & Senzala". Abdicou do conforto e o fausto da casa grande, tornando-se como seu maior bem, o partilhar, transformando em MUSEU-CASA a antiga Fazenda Quissamã depois da restauração da arquitetura e do mobiliário. Redimindo-se mesmo que involuntáriamente a ordem de um taciturno período da nossa história. Agora relembrar a mola motriz do velho ciclo do açúcar, não é o negro seu suor e suas lágrimas. Hoje o doce açúcar de Quissamã é partilhar sua memória. É um grande exemplo a ser seguido !
sexta-feira, 4 de março de 2011
Noph-RJ Quissamã
Hoje é o Museu casa Quissamã.Construido pelo Visconde de Araruama em 1826,com a riqueza gerada pela cana de açúcar em áureos tempos,recebia em seus salões a nobreza da corte ,e a augusta família imperial.O anexo au lado infelismente não existe mas quando pelas lentes do francês Victor Frond imortalizou esta bela cena, do cotidiano do Brasil rural, com a escravidão sendo a mola motriz de velhas oligarquias açúcareiras.Afinal,como disse Gilberto Freiyre,"o Brasil nasceu e cresceu econômicamente e socialmente com o açúcar".
terça-feira, 1 de março de 2011
O velho Rio Carioca
Um documento raríssimo, um manuscrito de um português arcaico esquecido, adormecido num arquivo, por quase quatro séculos, trazemos hoje a luz. Esse documento protegia um rio que virou apelido de todos os habitantes nascidos na capital da cidade do Rio de Janeiro – Carioca.
Essa carta de Sesmaria passada pela câmara dos vereadores no 1° quartel do século XVII ao nobre fidalgo
Dom Francisco de Pina em 16 de fevereiro em 1611, diz: "Com tal que ele não fará prejuízo e água da dita Carioca, antes a terá limpa como se requer e não plantará coisa alguma assim de roça como de bananais e legumes e as mais coisas que se plantam. Ao longo do dito Rio ficarão cobertas de mato virgem, o qual não derrubará, nem se cortará de maneira que esteja sempre em pé, e quando servir-se do dito Rio com sua água assim para beber e lavar a roupa fará na parte e lugar para isso". Por quê ? 400 anos depois essa fonte primária, essa relíquia manuscrita, merece uma atenção profícua. Certamente esse valioso documento destaca um olhar inicialmente rigoroso da municipalidade colonial, com a proteção ambiental, abalizado pela câmara de vereadores.
Esse documento, podemos assim dizer, que é a certidão de nascimento da nossa hoje legislação ambiental, ou seja, proteger as águas do Rio Carioca era dever político com o bem estar social. Ao longo dos séculos os moradores do Rio deveriam proteger as matas ciliares, assegurar vida aos seus afluentes. Cuidar dos mananciais era dever dos moradores da velha Urbe carioca. Naquele momento o Rio Carioca era fonte aquífera de água boa de toda cidade do Rio de Janeiro ou a mais importante, pois no 1° quartel do século XVII o término do rio estava sofrendo sérias degradações ambientais e a foz do velho rio já estava poluída.
Beber da nascente era privilégio de poucos, e poucos se aventuravam em buscar água dentro da floresta. O Rio Carioca nasce na Serra do Corcovado pela altura das paineiras e vem serpenteando pelo Vale das Laranjeiras, divide-se em dois braços, um dos quais tem foz, no Flamengo, próxima à antiga amendoeira e o outro desemboca junto ao Outeiro da Glória. Esse último é designado pelo nome de Catete.
O Rio Carioca tem suas nascentes nas palmeiras, na chamada Lagoa dos Porcos. Pouco abaixo recebe dois afluentes: Pela margem direita nas proximidades na Ladeira do Ascurra, o Silvestre e, pela esquerda o Lagoinha, os dois mais importantes embora ambos não passem de pequenos riachos incrustados na densa floresta. Próximo à foz do Carioca existia a famosa "Casa de Pedra", a que se referem os antigos, dando Gonçalo Coelho como construtor. Atribui-se o nome que os Tamoios chamavam CARIOCA – "Casa de branco". Diz-se também, a origem "Acary-Oca" designar peixes abundantes chamados "cascudos". Corroborando com a matéria postada pelo IHJA.
Por melhoramentos urbanos, este braço de rio foi no começo do século XX, soterrado sob as galerias construídas pelo então jovem engenheiro Eugênio Gudim, na reforma Pereira Passos. Um dos problemas prementes do Rio de Janeiro foi sempre a do abastecimento de água potável, pela distância e escassez dos mananciais os antigos habitantes, desde a fundação, mandavam buscar por seus escravos na ribeira do Carioca, seja no Vale ou também na aguada dos marinheiros na praia do Flamengo.
No ano de 1617 foram determinadas as primeiras providências para canalização da água do rio Carioca,por Constatino Nemelau. Já no ano de 1624, com Martim Correia de Sá foram dados passos importantes para a capitação das águas do Rio Carioca, por meio de calhas de madeira ao longo dos morros. Infelizmente o contratante nunca realizou a obra projetada.
Em 1673, com a presença do governador João da Silva e Sousa, depois de rezada a missa no altar armado no local, foram iniciadas finalmente as obras de adução das águas da Carioca. A câmara contratou a construção de um encanamento de pedra e cal que deveria trazer a água até o morro do desterro, em Santa Tereza. Pela carta régia. Em 1677 de 3 de julho, determinou o rei que fossem ativadas com toda diligência as obras em andamento para adução das águas da Carioca. Sucessivos governos deram andamento a tal importante empreendimento. Como no governo de Aires Saldanha Albuquerque Coutinho Matos de Noronha (1719-1725), teve inicio a construção dos "Arcos da Carioca", construção esta descuidada apresentando indícios de ruína pelo traço tortuoso e imperfeito mais felizmente em 1723, jorrou água fartamente nas 16 torneiras de bronze, no Chafariz de mármore de Lioz que veio de Lisboa por encomenda Aires Saldanha. Infelizmente tal obra arruinou-se ao longo do trajeto,tendo novamente a cidade o velho problema de abastecimento de água potável. Mas somente no 2° Quartel do século XVIII a administração pública empenhou-se em resolver o grande problema da antiga Urbe Carioca. No governo de Gomes Freire de Andrade (Conde de Bobadela) (1733/1763), com o risco arquitetônico do então arquiteto Brigadeiro Alpoim no esforço hercúleo de ambos, ergue-se nossa jóia setecentista, com seus arcos longilíneos brancos imponentes,de pedra e cal. É, como assina-la Moreira de Azevedo, " A maior obra monumental empreendida no Rio de Janeiro durante os tempos coloniais." Com inscrição lapidar gravada em um dos seus arcos.Hoje cartão postal do Rio de Janeiro.
Os velhos arcos condutor da água do antigo rio Carioca,hoje em término de restauro,repousa firmemente sobre a boemia Lapa. E o velho rio quase todo canalizado por reformas urbanísticas, estará sempre nos corações de todos os cariocas. Lamentavelmente, foi o não cumprimento deste valioso documento, de quase 400 anos atrás, entregue ao nobre fidalgo Dom Francisco, que posteriore arruinou, a potabilidade ou seja a vida do mais importante Rio da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Infelizmente a foz do rio tornou-se insalubre. Hoje do rio Carioca temos velhas lembranças, das lavadeiras, aguadeiros escravos do século XIX, e os velhos pescadores que tiravam o seu sustento do velho rio. Já no século XX a municipalidade valeu-se outros rios para o abastecimento da cidade, como o Maracanã. Beber água do velho rio Carioca, hoje é idílica utopia, é contar histórias de um tempo que parece para sempre acabado. Conhecê-lo, valorizá-lo faz parte do profícuo labor que o historiador tem a "ventura ou desventura" de encontrar.
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